terça-feira, 16 de março de 2010

epitáfio



fim de noite
em minha vida de incertezas
amanhecerá e eu não terei o respirar
meu coração estará cego e sem dores
não sentirei mais nada
o dia majestoso me sufocará
com o lençol branco tendendo ao amarelo
dos girassóis a rirem dos heremitas
condenados aos cadafalsos de luz
fim de noite
em meus terríveis instantes
do que me servirão os gerânios?
do que me adiantarão os apitos do trem?
do que me servirão as delícias do café?
do que me adiantarão os finos perfumes
a completar-me o banho ocioso?
do que me servirão as folhas verdes
se elas não trarão nenhuma perspectiva?
do que me adiantará recordar a infância
se os pretéritos não iludem e não há sinos
por sobre a relva dos reflexos azuis?
fim de noite
as estações se foram e os corcéis
não pastarão à alba nem os rouxinóis
descerão à soleira da porta nem cantarão
sumindo à densidade dos pomares
porque o tempo(sabemos) não retorna jamais
deixarei por inssistência e alguma serenidade
meus escritos como legado em lírios de madrugada
antes os hipócritas e os abutres fervilhem ao derredor

Nenhum comentário: